sexta-feira, 22 de maio de 2015

Imagem não autoral


A morte é um silêncio.
É um barulho de avião enquanto estamos sentados 

num departamento público.
É uma mosca batendo na nossa perna.
Uma chuva barulhenta ou um sol que tá ali. Parado. Esperando.

A morte é cansada, cheia de sono, distração,
- Não vi o sinal de novo.

É um ventilador rangendo.
Porta barulhenta.
Motor barulhento.
Buraco barulhento.
Céu barulhento.

Silêncio.

A morte é um lençol sendo puxado, deixando nosso corpo frio.
Olhos fixos num ponto sem sentido. É um símbolo.
Uma faca, um chão, ataque ou só ela mesma, sem mais ninguém.

A morte é o sopro da vida indo embora.
É o suspiro inexplicável de apagar.
Sair do corpo.
Sumir.
Virar pó.
Bater as botas.

Morrer não parece tão complicado.
Já pensou nisso? Você tá vivo e de repente...
A morte sempre acontece no meio de alguma coisa menos importante.
Acabou sua conta.
Seu trabalho.
Seu carro.

Acabou.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Gente má




Não adianta dizer que é culpa da televisão

Você sabe que é culpa sua
Você é sujo, você se suborna com doces
Se pune com academia

Você, meu caro, não ajuda ninguém,
Não dá bom dia, não dá pão nem roupa velha.
Aí você quer ser salvo, você acredita que vai pro céu.
Que céu?
Nem no mar você cai.
Tubarão não gosta de carne podre,
Gente que não recicla, não anda de bicicleta, 
não come orgânicos, 
só usa escada rolante, 
não vive sem TV, 
compra couro legítimo e madeira maciça.

Você
é
carniça.

Você 
é
pó.

Você 
é
nó.

Você
é
fim.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

FezSóBook




A geração do fone não te ouve mais
Suas conversas são solitárias
Suas palavras buscam ecos na caverna
- Curtiu? Alguém curtiu o que eu falei?

Não fui enfático, preciso de mais drama
Por favor, joguem-me os cãezinhos para adoção
Me dêem os idosos esquecidos
Mostrem como amam minha comida, me amem!

Só quero ser aceito, tenho medo de solidão
Então, vivo conectado,
Mas ninguém me responde, ninguém me vê.
Parece que viver hoje dói mais.

Gostei, vou postar.

Paula Albuquerque

Querendo ser burro




Hoje, o nosso maior defeito é saber de tudo, já sabemos como funciona nosso organismo, logo não deixamos de comer aquilo que queremos, só comemos moderadamente, sabemos também que o amor tem algumas formulas sim, basta cultivar, regar, colher e principalmente ser paciente com ele. Outra coisa importante é que já sabemos lidar com boa parte das doenças e quase nada nos mata tanto quanto a velhice, essa que por sinal já não nos deixa mais manchas na pele, pois já aprendemos que sol em excesso faz mal e que a imortalidade tá quase aí, batendo na nossa porta. Em todo esse tempo conseguimos entender que exercício físico é imprescindível, que cigarro mata e um baseado de vez em quando não faz mal. Passamos pela tristeza com remédios, pela dor com pílulas, até pelos filhos, basta uma pílula e eles não vem, compreendemos que não podemos viver no ócio, mas que trabalhar demais também não é adequado, pois lazer é saúde. Amigos nos alegram, algumas pessoas são falsas, e família, meu amigo, a família é tudo que precisamos. Palavra cruzada, quebra cabeça, caça palavra fazem nosso cérebro acordar e dor nas costas é algo que vai acontecer de vez em quando. Só nos falta uma coisa, a ignorância, pois sem ela não vive-se, calcula-se.


Paula Albuquerque

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Egonizando





Dou meu tom no som, nas cores
Dou meu som às dores
Dou o que quiser aos amores
Sou vida, sou castelo, reino amarelo, vinho, branco.
Não gosto de bebidas quentes, me amarula.

Quantos dias ainda vou perder reclamando?
Vendo o tempo passar, vendo a vida arder,
Vendo a rua, vendo a vida, vendo a casa também
Aliás, vendo o que você quiser.
Vendado sou, confesso.

Não vejo mais o que me arrepia,
Não como mais o que me sacia, 
Eu só sabia do que eu não gostava
O que eu gosto é um mistério do tamanho do mundo,
Imundo, tudo é tão imundo.

 “Que revolta!” você vai pensar.
Mas se soubesse a volta que ainda tenho que dar...
Ah, pouparia as palavras.
Não conhece minhas dores,
Nem eu as suas. Enfim,
Muito prazer, ego.


Paula Albuquerque

terça-feira, 24 de julho de 2012


Tenho no peito uma revolução,
onde travo batalhas, onde tenho navalhas e dragões.
Tenho na mente uma infinidade,
onde o espaço é pouco, o tempo é curto, o pavio também.
Tenho crença nos braços,
patuá nas mãos, amuleto no anel.
Tenho uma guerra na boca,
de onde saem canhões, acontecem fuzilamentos, mil detentos.
Tenho condenados no chão,
calabouços na cama, prisões nos lençóis, grades no cabelo.
Tenho também medo de espelho.

Tenho pés alados,
onde descubro caminhos, faço ninhos e mais inhos...
Além de tudo, ainda tenho o corpo inteiro,
templo, tempo, tento, sou.

Paula Albuquerque

terça-feira, 12 de junho de 2012

Para ler em uma quarta feira





Falando sobre mim, resolvi achar feio,
Resolvi achar resquícios de podridão,
Resolvi me arrepender sem motivo,
Notei-me cada dia mais relativa, inativa.


Resolvi não resolver nada, temer o mundo,
Resolvi viver sem fala, assim calada, assim muda.
Mas quando mudo é, há uma revolução de silêncios pardos e amarelos, 
Há uma gritaria febril de insanos e paralelos,
Imagine tudo isso em um corpo só.


E eu penso: “Cortem-lhe as cabeças!”
Isso não pode ser normal. 
Discreto é chato, puxa saco é foda,
Ser silencioso virou moda, não pra mim,
Que me mantenho podre nos exteriores,
Mas aqui dentro sã, linda e limpa, cheia de amores.

                                           
Paula Albuquerque