sexta-feira, 30 de julho de 2010


Murmurou o céu porque lá vem tempestade,

É hora da saudade despertar do peito,

E não fico satisfeito de chorar num canto,

Porque meu desalento tirou-me o respeito.


Abriu o céu porque lá vem o Sol,

Pra colorir a tristeza e embelezar o mar,

Pode ser que um dia se note,

Pode ser que um dia esqueça,

Pode ser que um dia perceba que tamanho brilho

É pra nos iluminar.


Cantou o pássaro porque é primavera,

Veio em bom tempo de colorir a cidade

E como se não bastasse, trouxe lindas flores pra você,

Só pra te cortejar, assim de manhã ao despertar.


Reclamou o homem porque Deus não lhe escutou as preces,

Justificando que continua pobre e solitário,

E Deus ao notar tamanha injustiça,

Tornou a murmurar o céu,

Tornou a mandar o Sol,

Ordenou que o pássaro cantasse,

Mandou as flores se abrirem,

E o homem coitado, se assim posso dizer,

Terminou mais um dia frustrado,

Por viver, estar lá, e mal agradecido não perceber.


Paula Albuquerque

segunda-feira, 26 de julho de 2010


Se o amor matasse, ao menos não haveria a guerra,

Pois não haveria quem fazê-la.

Se o bem bastasse, o mal teria saído a francesa de tamanha vergonha.

Caso a fé do homem tivesse coragem de assumir-se,

O medo não pensaria em nascer.

Se o preconceito fosse apenas alheio, teríamos certeza de nos assumir.


Se tu se bastasses, não teria amigos, família, empregada, nem animal de estimação.

Se tu perdoasses não estaria agora com mil pedras na mão.

Caso não feríssemos ninguém, a paz reinaria.

Se o passado houvesse passado, quem se lembraria?

Se não tivéssemos complexos, não teríamos que nos defender das más línguas.

E se tu mudasses, tudo a tua volta junto contigo mudaria.


Paula Albuquerque

sexta-feira, 16 de julho de 2010


Pode guardar aquele velho disco,

Aquela louça que tanto gosta,

O meu porta retrato que vivia a beijar,

Leve também seu lençol de seda,

E aquela mesa cara,

Mas não leve a minha saudade

E minha esperança de você,

Não leve meu carinho,

Todo carinho que tenho por ti


Leve seu salto,

E minha camisa amassada,

A comida passada,

O cigarro ao meio,

O meu receio e minha dor,

Leve meu devaneio e meu sabor,

Leve a minha lambança,

Leve o meu medo,

Leve aquela carta,

Aquela foto,

Leve aquela velha aposta,

E o antigo brinquedo,

Mas não leve meu abraço,

E deixe a saudade aqui


Deixe o seu retrato 3x4,

Minha certidão e meu tormento,

Meu lamento você pode levar,

Deixe-me um pedaço de torta

E a porta de entrar,

Deixe a sala vazia,

A cozinha arrumada, por favor,

Leve aquele pedaço do meu grande amor

Só peço que não leve a lembrança,

Leve a ignorância que joguei pra ti,

Leve as flores,

Leve até o cachorro se quiser,

Leve a mudança,

A herança e minha dor, por favor...

Leve tudo,

Só assim me sinto leve desse desamor!

segunda-feira, 12 de julho de 2010


TorturAR-TE

Eu gosto é de quadros tortos
Lindos, coloridos e disformes quadros tortos
Assim é mais fácil enganar quem acha entender de arte.
Dizem, pois, que moda é arte, e se contradizem
Ao dizer que arte não está na moda

Há quem tenha pintado lindos quadros paisagistas
E não tenha sentido nada, isso sim... Isso não é arte.
Há quem tenha tropeçado em um balde de tinta,
Enquanto ria com seus amigos, num churrasco de domingo
Aí sim deveriam chamar de arte, pois há sentimento...
Eu gosto é de quadros tortos

Eu gosto é de sentir a poesia onde não há letras,
Gosto da sarjeta dos excluídos,
Gosto de quem dança no silêncio dos ouvidos,
Eu gosto é de quadros tortos

Não me apareça com planilhas mal planejadas
Nem com versos calculados, quero sentimento!
E repito, quero sentimento e não contento.
Quero arte por amor, não por dinheiro,
Quero arte por si só.
Quero arte que pontua dando fim ao começo
Quero meio também, se não se importar, é claro.
Eu gosto de quadros tortos

Aqueles que expressam dor com um sorriso,
Olhares corporais, pensamentos falantes,
Danças na inércia, pressa diante a calmaria,
Alegria, eu quero alegria!
Jogue-me um balde de tristeza e então verás
O que acontecerá, pode ser que eu desapareça
E vá pra outro lugar.
Aqui me incomoda, pois aqui é seco,

Aqui é frio, obsoleto, rudimentar, e principalmente...
Aqui não tem quadros tortos

sexta-feira, 9 de julho de 2010



Embriaguez de Sensações


Não me lembro do cheiro nem do gosto
Não recordo se tinha cor, se tinha raça
Não sei se usava roupas, carcaça;
Senti que era humano, era pele
Era carnal, era sentimentalizado,
Muito bonito de se ver,
Mas invisível, ao ponto de sentir

Parecia um arrepio prolongado,
Um orgasmo infinito, um poço de sensações,
Desejos concretos e irreais,
Era sonho, fantasia perfumada, humorada talvez

Acompanhava uma insegurança indescritível
Seguramente escrita pelas mãos de Deus,
Tinha um seguimento mundano perante os senhores
E ao mesmo tempo glorificado por todos eles,
Parecia uma selva de errantes aventureiros
Que davam os corpos a tapas

Era ficção romântica, poesia revirada;
Com certeza inspiração de belas artes.
Cheguei a pensar que fosse perfeito,
Pois me proporcionava coisas jamais sentidas
Até perceber que era o defeito de uma vida pouco vivida

Calejei-me tanto, que mal pouco pude fugir
Descobri seu nome, ó pecado,
Foi apenas a primeira paixão que eu vivi



Paula Albuquerque



Quero uma vida por inteiro,
Não pela metade, nem pelo meio.
Quero verso, quero prosa,
Quero canção descompassada,
Quero um amor, dois , três talvez
Quero cheiro, tato, amasso pervertido
Quero riso e um pouco de tristeza
Quero pureza descabida,
Quero sentimento expansivo, motivo.
Quero reunião de amigos, batalha de inversos
Quero mil metros de trapaça.
Quero ganhar, mas não ligo se perder
Quero amar e não ligo se é você
Quero tensão, surpresa, sou presa em várias poetizas
Quero tesão, beleza, e nada de tecido
Quero calor, frio, loucura de um povo
Avanço pra um novo

Quero sentir medo, regalia, quero vida, harmonia

Quero samba, quero rock, quero mambo, quero pop
Quero todos, ou nenhum
Quero mil em um ou nada
Quero desacelerada na corrida,

Só não quero mesmo é meio termo,

Pra mim só serve por inteiro!


Paula Albuquerque

quinta-feira, 8 de julho de 2010